Aqui, nas páginas que serão postadas o "Consolador" irá alertar e infundir coragem para os momentos de angústia de qualquer procedência, tornando-nos mais aptos para enfrentar os desafios da existência.


domingo, 15 de maio de 2011

O DILEMA DA DISCIPLINA

É bastante comum, nos dias de hoje, ouvirmos reclamações de pais e professores, em torno do comportamento indisciplinado de crianças e jovens. Palavrões, brigas, pichachões, desrespeito aos mais velhos, desleixo com a aparência, iniciação sexual precoce, gravidez na adolescência, etc., fazem parte do rol de atitudes mencionadas para caracterizar esse comportamento indisciplinado.
Não se pode perder de vista o despreparo dos pais na condução da prole.Quando bem dotados financeiramente, matriculam os filhos nas melhores escolas, oportunizam-lhes viagens de estudos e entretenimento, oferecem-lhes cursos de informática e idiomas, alimentação apurada, cuidando com extremo desvelo do corpo e investindo somente na formação intelectual deles.
A formação moral, quando lembrada, é relegada para alguma religião ou transferida para a escola, pois estes mesmos pais estão muito ocupados, com outros afazeres ou envolvidos com atividades que consideram relevantes.
Nas famílias mais pobres de recursos materiais, o desenvolvimento da criança já se vê comprometido em razão da carência alimentar e da falta de tempo dos pais para orientá-los, pois saem muito cedo para trabalhar e retornam muito tarde. Existindo então outros complicadores.
Às vezes, a criança é filha de pais separados, que por razões diversas nem sempre conseguem atender convenientemente as suas carências e necessidades.
A televisão tornou-se de um tempo para cá a companheira e a educadora de muitas das nossas crianças e jovens, e, infelizmente, uma companhia altamente questionável.
É preciso que se diga ainda que os professores, na grande maioria, não foram preparados para lidar com crianças que apresentam problemas de comportamento e nem com aquelas portadoras de necessidades especiais. Quando conseguem um mínimo de conhecimento teórico, é porque fazem algum curso adicional ou a larga experiência dos anos lhes fez acumular conhecimentos suficientes sobre o assunto.
Ao despreparo dos pais junta-se o despreparo dos professores.
Considerando essa variedade de fatores, que até certo ponto explicam os problemas apresentados pelos educandos, não podemos esquecer que eles são espíritos reencarnados, trazendo tendências e aptidões das vidas passadas. E que os mesmos possuem afetos e desafetos no mundo espiritual, influenciando direta ou indiretamente o comportamento deles.
Com tudo isso, como estabelecer uma disciplina que prepare, oriente e colabore na formação de homens de bem?
Didaticamente podemos pensar em três níveis de disciplina:


Preventiva
Punitiva
Reparadora

A disciplina preventiva é aquela que é trabalhada desde a gestação, perpassando todas as fases do desenvolvimento biopsicossocial da criança.

Paulo Freire salienta que a disciplina externa é necessária para estruturar a interna, e que a criança entregue a si mesma dificilmente se disciplina. A presença e o exercício da autoridade paterna e materna, é indispensável na construção da sua autonomia.
Parafraseando o educador Rubem Alves, afirmamos que é essencial libertar a criança das disciplinas desnecessárias, a fim de que ela consiga lidar e até aceitar aquelas que são inevitáveis no caminho de qualquer pessoa adulta.
Como é importante a presença de limites, de regras na fase infantil!
E disciplina não é apenas um conjunto de normas que estipulam deveres a serem cumpridos. A Natureza possui uma disciplina sem a qual os mares invadiriam as regiões continentais, os continentes gelados se derreteriam, as cadeias alimentares entrariam em desequilíbrio, os planetas colidiriam uns com os outros. O amor estabelece a disciplina do bem querer, do perdoar incessantemente, do fazer o bem a quem nos faz o mal e assim por diante.
Não podemos e nem devemos associar disciplina a surras e agressões, pois esse tipo de postura já é violência e não disciplina.
Joanna de Ângelis fala-nos de três tipos de indivíduos adultos, que resultam de uma educação bem ou mal orientada:
 Os insatisfeitos: são aqueles que foram vítimas de pais instáveis emocionalmente, despreparados para orientarem seus filhos para a vida. Pais violentos ou indiferentes.
Os dependentes: são aqueles que foram mimados, tiveram todas as suas vontades e caprichos satisfeitos, viveram numa redoma e quando em contato com o mundo, precisando cortar o cordão umbilical e decidir, optar, entram em crise ou sempre recorrem a quem possa decidir por eles.
Os realizados: são pessoas que vivem instantes de dependência e de insatisfação, mas conseguem administrar bem os seus conflitos. Normalmente conviveram com regras e tiveram afeto durante a infância, e graças a isso, desenvolveram uma capacidade de decidir com autonomia, correndo os riscos necessários e assumindo as consequências dos seus atos.

A disciplina punitiva é aquela aplicada nos presídios, nos lares onde os pais corrigem com violência seus filhos, nos países onde o crime é punido com outro crime (pena de morte), e que, inevitavelmente, não promove, não remove as causas da indisciplina.
A esse respeito Pedro de Camargo escreveu:

"Para bem agirmos em prol do saneamento moral, precisamos partir deste princípio: o crime não é o criminoso, o vício não é o viciado, o pecado não é o pecador(...) o doente não é a doença. Assim como se combatem as enfermidades e não os enfermos, assim também se devem combater o crime, o vício e o pecado, e não o criminoso, o viciado e o pecador".

Theobaldo Miranda Santos afirma que os castigos ministrados com raiva, até acentuam a revolta da criança. É necessário que ela perceba na correção, de que é objeto, o propósito do seu aperfeiçoamento.

A disciplina reparadora, é a única capaz de ir nas causas da indisciplina, que se localizam no espírito imortal e que, segundo Ney Lobo, citando Allan Kardec, residem no instinto de conservação exagerado e no desconhecimento do passado e do futuro do espírito. Só ela pode minimizar a crença na superioridade individual, o orgulho e o egoísmo, que conduzimos em nosso cerne.
Exemplificando: é preciso que a criança seja levada a corrigir o que errou, consertar o que quebrou, repor o que retirou, desculpar-se com quem ofendeu, fazendo sempre uma ação contrária e correta àquela que foi considerada uma indisciplina. Conscientizando-se de que errou. É claro que isso não se consegue sempre no exato momento em que ela é flagrada em erro. É preciso que os educadores, de um modo geral, tenham o tato necessário para aguardar a hora certa de solicitar a correção. No calor das emoções exaltadas é muito difícil que a criança se predisponha a essa reparação. E não raro, quando se exige isso logo de imediato, comete-se um outro erro, o de humilhá-la, obrigando-a a uma correção forçada e exterior, sem que ela se convença do seu equívoco.

Escreve o filósofo Ney Lobo:
"O grau de responsabilidade disciplinar do educando deve ser diretamente proporcional à gravidade da falta, ao grau de liberdade em cometê-la ou não e à sua idade, não somente biológica ou mental, mas relativa ao nível espiritual. Esta idade espiritual se apresenta através dos componentes: inteligência e moralidade (variáveis de um espírito para outro)".

É com a disciplina reparadora que a criança conseguirá ser um adulto realizado, nas palavras de Joanna de Ângelis, libertando-se de sentimentos de culpa, da censura social, estruturando sua disciplina interna e utilizando seu livre-arbítrio sempre para o bem.
Diz-nos também Allan Kardec, no livro O Céu e o Inferno:

"Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo, pela esperança, o caminho da reabilitação; só a reparação contudo pode anular o efeito destruindo-lhe a causa".

Só nos resta investir cada vez mais na Educação do Espírito, se quisermos fazer da Terra um mundo feliz, governado por homens inteligentes e bons, regidos pela disciplina do Amor.

Cezar Braga Said

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